O Gagaku é uma arte tradicional japonesa de mais de mil anos e atualmente é considerada o estilo que originou os instrumentos que conhecemos no Japão. Adicionalmente, de acordo com historiadores, também é considerada a música de orquestra ininterrupta mais antiga do mundo, juntando instrumentos de sopro, cordas e percussão. Nesse estilo, os músicos vestem roupas ancestrais e tocam instrumentos antigos como o sho, gakuso (o koto antigo), hichiriki e o gakubiwa.
Diz-se que o Gagaku é uma oração em forma musical onde deve existir harmonia entre o homem e a natureza. As músicas e os instrumentos buscam essa conexão com a natureza reproduzindo seus sons como se fosse um diálogo.
Origem do Gagaku e instrumentos
O Gagaku e seus instrumentos chegaram ao Japão e se fundiu à cultura local por intercambios com outros países asiáticos como a China. O estilo inclui o kangen (peças instrumentais) e o bunraku (danças), e os instrumentos utilizados incluem:
- Instrumentos originados no Japão como o wagon e o kagura-bue
- Instrumentos de sopro: sho (órgão de boca), hichiriki (oboé), fue (flauta)
- Instrumentos de corda: gakusou (harpa), gakubiwa (alaúde)
- Instrumentos de percussão: kakko, taiko, shoko (gongo) e san-no-tsuzumi
Adicionalmente, seu repertório é constituído de três pilares musicais: togaku, tida como originário do estilo chinês da dinastia Tang (618-907); komagaku, que se acredita ter vindo da Península Coreana; e a música de composição nativa, associada com rituais da religião xintoísta.
Inicialmente, o estilo era interpretado nas cortes pelos nobres e por músicos profissionais que transmitiam seus conhecimentos de pai para filho como forma de educação e entretenimento. Com a ascensão dos líderes militares durante o período Kamakura (1185-1333), as apresentações de Gagaku nas cortes se tornaram escassas, mas a tradição foi preservada nas mansões da aristocracia de Kyoto, Nara e Osaka. Após a restauração Meiji em 1868, os músicos profissionais passaram a se reunir em Tóquio e hoje se dedicam ao Departamento de Música do Palácio Imperial, e são em sua maioria, descendentes diretos dos grupos de músicos que surgiu no século VIII.
Com o intuito de disseminar para o mundo essa cultura, a própria casa imperial promove apresentações duas vezes ao ano e também em teatros no Japão e mundo afora. Eu tive o privilégio de assistir uma apresentação no Brasil quando a Fundação Japão organizou uma apresentação única no país.
Em 2009, o Gagaku foi considerado Patrimônio Cultural e Imaterial pela UNESCO. Essa arte é um pilar importante na caracterização do Japão e cristalização da sua história, e ao mesmo tempo um exemplo de como diversas tradições culturais de diversos países podem se fundir para gerar algo único. Estudando sobre o Gagaku, ficou super evidente que colocar silos entre as culturas do Japão como algo super tradicional e único do país é uma coisa equivocada. Viva a diversidade!
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