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間 - Ma: a profundidade do espaço vazio

Faz muito tempo que estava querendo escrever esse texto, mas estava precisando ter algumas experiências e inspirações para poder escrever da melhor forma possível. E será bem possível que ao longo do tempo, eu vá atualizar esse texto pois o conceito de "ma" não é tão simples.


Desde o início da pandemia, me propus aprender uma série de instrumentos e cantos do Japão com vários professores de lá mesmo que se abriram a dar aula online com a pandemia. E todos, sem exceção, tentam me passar esse conceito, tão profundo e importante.



O que é o 『間』?

"Ma" é o conceito japonês para o espaço vazio, pausa, abertura ou intervalo, como o "silêncio entre as notas que compõe a música". Não é só uma estética minimalista, mas trata-se de dar uma finalidade metafísica aos espaços vazios, uma respiração que permite colocar o valor em outras partes da obra.


Mais do que esse conceito teórico, acredito que esse vazio é uma forma de levar a vida que todo mundo deveria seguir. Segundo a filosofia japonesa, esse espaço é repleto de energia, podendo inclusive permitir a apreciação do espaço e tempo.


Inclusive se formos ver o ideograma, o kanji combina os ideogramas de porta『門』e o de sol『日』, representando juntos uma porta por onde entram os raios de sol, representando para mim a entrada de energia nova, renovação e crescimento. Quando se pensa em uma porta, normalmente o que vem a mente é a imagem do objeto. No entanto, você saberia responder filosoficamente o que faz da porta, ser uma porta? A resposta é: o espaço vazio.




Onde existe o "ma" na cultura japonesa?

Esse conceito existe nas artes, como música e pintura, na arquitetura, assim como no dia-a-dia do japonês. Por exemplo, e, que significa "tonto", literalmente está traduzido como "alguém que não tem ma". A terminologia para referir-se ao ser humano são os kanjis de pessoa e ma 『人間』, ou seja, o indivíduo é composto desse vazio, e não pela ausência de algo.


Somos também bastante conhecidos como pessoas introvertidas e que falam pouco, mas na verdade, temos a característica de aprender sem falar, somente observando. E como me ensinou minha mãe, para algumas situações o melhor é não falar nada. Como dizem, o silêncio é ouro.




A minha dificuldade com esse conceito

Não sei se é essa vida ocidental, ou se são os tempos atuais, mas a vida anda tão corrida. Além disso, toda a tecnologia não permite a você dar um respiro. Mensagens que precisam ser respondidas em segundos. A caixa de email do trabalho lotado para responder coisas para ontem. Esses dias fiquei metade de um dia sem abrir o Outlook e voilá ...... 70 emails não lidos.


Essa pressa faz com que não tenhamos tempo de apreciar as coisas para valer, dar valor, ser criativos e pensar "fora da caixa". E toda essa pressão de sempre mais e mais faz com que lotemos nossa agenda com atividades, muitas vezes sem sentido algum, simplesmente pela satisfação de ter um dia ocupado e aparentemente, "produtivo".


E nessa correria, tenho feito minhas aulas e os senseis sempre me pedem:

  • Nishikawa, respire mais longo!

  • Dê mais espaço ao silencio na música

  • Como você quer valorizar a parte com melodia se você não colocou um silencio para causar mais tensão?

  • O silêncio valoriza as notas! Abuse mais do silêncio

  • Descanse mais. Fazer muitas coisas faz com que você fique improdutivo. Pense como um maratonista e não como um velocista.


E para aprender esse conceito, comecei a desacelerar. Respirando mais nas músicas, vi que a voz começou a sair melhor. Os solos difíceis já começaram a sair melhor por estar com os músculos menos tensos. E como consequência dessa vivência musical e aprendizado, comecei (ainda me falta muito) a dar mais valor à vida e ao que importa, deixar coisas que não servem ir e gastar energia ao que realmente é importante.


Abaixo uma música de Joe Hisaishi, que abusa desse conceito e cria peças únicas como Kaze no Toorimichi, uma das minhas músicas preferidas!



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1 Comment


Gabriela Naomi
Gabriela Naomi
Feb 09, 2024

Adorei o post filosófico. Tem relação com a música mas tbm com a nossa vida em geral. Mto profundo

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