Esashi Oiwake é uma das principais canções folclóricas do Japão e conhecida como "Rei dos minyos". Essa canção leva o nome da cidade onde se originou (cidade de Esashi em Hokkaido) e não há literatura com registros sobre sua origem e data de criação, mas diz-se que se originou das músicas Magouta, de Shinshu e Ise Matsuzaka Bushi.
De forma poética e simples, a letra mostra o sentimento de partida de uma pessoa à Ilha de Hokkaido (norte do Japão) para o trabalho de dekassegui (trabalhador temporário) para a pesca de arenque (nishin).
かもめの泣く音に ふと目をさまし
あれが蝦夷地の山かいな
Despertei com o choro da gaivota
Será que ali é a montanha de Ezochi?
Origem
A música Magouta, da região de Shinshu Nakasendou foi primeiramente transmitida para Echigo, transformando-se em música com tom de navio pesqueiro, dando origem ao Echigo Oiwake. Esta foi levada para Esashi pelos pescadores que frequentavam a região de Ezochi (antigo nome da província de Hokkaido) e foi disseminada em locais de diversão.
Por outro lado, a música Ise Matsuzaka Bushi foi rearranjada por Kenryo Matsuzaki, tornando-se Matsuzaka Kuzushi, que foi principalmente utilizada como Kenryo Bushi em celebrações festivas na região de Echigo, de onde foi levada para a cidade Esashi, depois de mais popularizada. Acredita-se que nessa cidade, essas músicas receberam influência de barqueiros, pescadores, comerciantes e outros elementos transportados pelo navio Kitamae e foram se aglutinando, dando origem a Esashi Oiwake.
Um dos principais nomes na composição final de Esashi Oiwake foi Ichinosuke Sanoya – vulgo Sanoichi –, um tocador de Biwa (instrumento de quatro cordas) nascido em Morioka. Há uma lápide com seu nome no templo Higashi Honganji, e é realizada uma missa em sua homenagem, no dia que antecede o concurso nacional de Esashi Oiwake.
A canção
Esashi Oiwake tem três partes: A principal é a do meio, Hon-uta. A primeira parte, Mae-uta, é a música de barqueiros trazida de Echigo pelo Komusō (monge budista mendicante) Daijiro Ōshima. E a última, Ato-uta, foi inserida posteriormente, em 1921, pelo flautista de shakuhachi do estilo Kinko Shudo Uchida, de Kobe.
O formato atual de Esashi Oiwake deve-se à intensa dedicação de Genzaburo Hirano, que trabalhou pela unificação de todas as vertentes de Esashi Oiwake, fundando o centro de pesquisas Esashi Oiwake Seicho Kenkyukai, no ano 41 da Era Meiji (1908).
Genzaburo Hirano foi discípulo direto de renomada tocadora de shamisen conhecida como “Básan de Komasu”. A música dela é considerada como a precursora da parte principal (Hon-uta) de Esashi Oiwake. Instruído pela mestra, Genzaburo Hirano criou, em 1881, a vertente Hirano da música em questão, trabalhando para a difusão e também na edição da partitura. E, em 1911, a música ficou completa. Genzaburo conseguiu realizar uma apresentação em Tóquio, enfim consolidando-a tal como é conhecida atualmente.
Tradução
A letra postada no início é a principal letra cantada, mas existem outras, como vamos descrever abaixo para efeito de curiosidade e para a história ficar "completa".
前唄 国をはなれて 蝦夷地が島へヤンサノェー いくよねざめの 波まくら 朝なタなに聞こゆるものはネ~ 友呼ぶかもめと 波の音 Deixando o "país" (ilha principal do Japão) para a ilha de Ezochi (antigo nome de Hokkaido)* Sobre as ondas em forma de travesseiro Desde a manhã até a noite, o que se ouve É o chamado amigo da gaivota e o som das ondas
*"ezo" no japonês antigo queria dizer bárbaros, referindo-se aos ainus; e "chi" quer dizer terra, ou seja, terra de bárbaros
大島小島の 間(あい)とる船は ヤンサノエ 江差通いか 懐かしや 北山おろしで いく先曇るネ 面舵頼むよ 船頭さん O barco com trajeto a Esashi passa por ilhas grandes e pequenas Trazendo uma sensação de nostalgia No caminho para Kitayama, tudo está nublado O barqueiro pede o leme
波は磯部に 寄せては返す ヤンサノエ 沖はシケだよ 船頭さん 今宵一夜で 話は尽きぬネ 明日の出船を 延ばしゃんせ As voltas vão e voltam para Isobe Sr. barqueiro, as ondas estão de ressaca essa noite pode ser o fim da nossa história Então não seria melhor adiar nossa partida para amanhã
松前江差の 津花の浜で ヤンサノェー すいた同志の なき別れ ついていく気は やまやまなれどネ~ 女通さぬ 場所がある Na praia de Tsubana em Matsumae/Esashi Me despeço de uma pessoa querida Queria muito te levar comigo Mas há um lugar onde mulheres não são bem vindas
本唄 沖のかもめよ 流るる雲よ せめて 伝えよ この心 Gaivotas na costa do mar e nuvens passando Pelo menos é o que quer dizer esse coração
忍路高島 およびもないが せめて歌棄 磯谷ま Nem mesmo em Oshoro e Takashima Ao menos em Utasutsu e Isoya
後唄 沖でかもめの なく声聞けばネ~ 船乗り稼業は やめられぬ Não posso deixar de trabalhar como marinheiro Se ouvir a voz da gaivota em alto mar
沖でかもめの なく声聞けばネ~ 船乗り稼業は やめられぬ Não posso deixar de trabalhar como marinheiro Se ouvir a voz da gaivota em alto mar
蝦夷地海路の おかもい様はネ~ なぜに女の 足とめる Na rota marítima de Ezochi Porque está interrompendo o trajeto de mulheres?
何を夢見て 鳴くかよ千鳥ネ ここは江差の 仮の宿 Qual seu sonho, tarambola que está cantando? Aqui é onde pararei, em Esashi
Esashi no pós-guerra
Esashi Oiwake, que silenciara por um tempo durante a guerra, foi reestruturada e novamente difundida a partir de 1947 (Ano 22 da Era Showa). Até 2012, sob organização da matriz de Esashi, existem 159 filiais, com 3.636 associados. Assim, Esashi Oiwake é considerada atualmente a maior representação da música folclórica japonesa.
‘Esashi Oiwake’ não é o tipo de música da qual se diga ‘não consigo cantar, pois não tenho voz boa’. A voz pode ser fina, grossa, grave, aguda… cada qual dará o seu próprio tom. Assim que se resolva visualizar o mar, exercitar as cordas vocais e soltar a voz do fundo do abdome, a música terá incorporado uma série de sentimentos. É por isso que conseguimos ’ouvir’ a vida da pessoa que a está entoando: o interior dela vem naturalmente à tona, em meio aos versos. E é por isso que a música causa tanta emoção.
Essa música tem algo que ressoa diretamente no coração japonês. Não seria esse o motivo pelo qual Esashi Oiwake é tão amada? O labor e a vida; as alegrias, as tristezas, o rigor e a beleza do sentimento humano… cada detalhe está implícito nas sílabas da canção. Ouço-a desde bebê, como uma canção de ninar, e continuo entoando-a até hoje, mas, quanto mais eu canto, mais profunda parece ser… Provavelmente, jamais conseguirei atingir o ápice.”
Mitsuru Aosaka Mestre de Honra da Associação Esashi Oiwake
Esashi Oiwake no Brasil
Em 1977, levando em conta que no Brasil havia milhões de imigrantes japoneses que enfrentaram uma vida de luta intensa, sofrimento e com muita saudade da terra natal, foi encaminhada uma delegação de cantores profissionais de minyo do Japão, com o intuito de levar alegria, um pouco de conforto e acalentar a saudade do povo. Sob presidência do professor Motoharu Sasaki, a delegação foi recebida com entusiasmo indescritível, e o público ovacionou os cantores com aplausos calorosos. Nessa passagem, a delegação presenciou muitos choros de emoção por parte dos imigrantes oriundos das diversas regiões do Japão.
A partir dali nasceu a paixão infindável do professor Motoharu Sasaki pelo Brasil, tanto que passou a visitar periodicamente o país. Nessas visitas, o professor também começou a divulgar a música Esashi Oiwake, já que era mestre nesta música. Os que aqui estavam passaram a admirar a beleza desta música, tornando-se o sonho de muitos a fundação da Associação Esashi Oiwake também no Brasil, sonho este concretizado finalmente em 1989. Para presidir a filial japonesa da Associação Esashi Oiwake no Brasil, foi escolhido o professor Satoshi Ishikawa, nascido na região de Hokkaido, terra natal da música. O 1º Concurso de Esashi Oiwake no Brasil foi um sucesso e desde então conta com o apoio de toda a colônia japonesa no Brasil.
Em 2017, recebemos uma comitiva para as comemorações de 50 anos da associação com uma série de workshops, treinos, festividades e uma memorável apresentação no MASP. Integraram essa comitiva o prefeito da cidade de Esashi e cantores renomados como a sra. Terashima, que está no vídeo abaixo.
Fontes
https://www.tohokukanko.jp/sozaishu/detail_1002637.html https://www.nikkeyshimbun.jp/2019/191030-62colonia.html https://minyou.fun/7307/ http://esashi-oiwake.com/
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