Vivenciando o mundo musical, alguns grupos e artistas sempre acompanharam minha trilha sonora, inspirando-me e servindo de referência para estudo. Um dos grupos que sempre se destacou na minha playlist foi o Abeya.
Durante a pandemia, uma das (poucas) coisas boas que aconteceram foi a oportunidade de contato online com alguns artistas diretamente do Japão. Graças ao esforço de um grande amigo, Takeda-san, tivemos a chance de conhecer os irmãos Kinzaburou e Ginzaburou, que lideram o grupo Abeya. Takeda-san nos conheceu através do Grupo Min — um grupo de jovens praticantes de Shamisen e Minyo — e ficou entusiasmado com nosso trabalho. Talvez não pela técnica, mas por encontrar, do outro lado do mundo, um grupo de jovens apaixonados pela música folclórica de sua terra natal.
De forma muito despretensiosa, através de Takeda-san, realizamos uma chamada de vídeo com os irmãos e trocamos muitas experiências sobre essa arte tradicional e como estávamos mantendo essa tradição viva no Brasil.
Para ser sincero, como sempre acontece quando entramos em contato com mestres do Japão, pensei que isso fosse o fim do contato. Afinal, estamos do outro lado do mundo, com barreiras de idioma e cultura, e sempre senti que os japoneses não davam muita atenção ao que acontecia fora de seu universo.
Depois de tantos anos tocando, eu estava um pouco estagnado, sem referências de como avançar no Tsugaru Shamisen. Então pedi a Takeda-san que me ajudasse a entrar em contato com os irmãos para solicitar aulas online. Para minha surpresa, eles aceitaram! E assim, em 2020, comecei as aulas com Kinzaburou Sensei.
Certo dia, durante uma das aulas, Sensei, curioso, me perguntou onde ficava Guarulhos. Como 90% das pessoas, respondi que era onde se localizava o aeroporto internacional para quem chega a São Paulo. Algumas aulas se passaram, e recebi a notícia de que ele havia comprado passagens para vir nos conhecer pessoalmente. Dessa visita do Sensei, nasceu um grande respeito, amizade e laços profundos, mudando para sempre o caminho de todos nós aqui no Brasil — e, provavelmente, o deles também.
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