Dentre os vários estilos de música tradicional japonesa, há um estilo clássico/erudita chamado Jiuta (地歌). O termo “Jiuta” significa “canção da terra/país” e durante o período Edo, referiam-se às canções acompanhadas pelo sangen (assim é chamado o shamisen no Jiuta) das regiões de Kyoto e Osaka. De acordo com o ideograma 地, sua leitura pode ser “ji” ou “kamigata“, mas na época, significava também “canções que não são de Edo – antiga Tokyo”.
Esse estilo mostra bastante bastante o sentimento e a estética japonesa, de mostrar sentimentos profundos de forma simples, "sem mostrar muito", sempre nas entrelinhas. Portanto, sempre fica aberto à interpretações e sentimentos de acordo com o ouvinte. Vou ver ser bem sincero que somente depois de bons anos de prática e leitura, posso dizer que essa música me envolve.
Histórico
O Jiuta é considerado um precursor de vários estilos de música no Japão como o Nagauta e o Joruri, e também um dos primeiros estilos de shamisen, pois o nascimento de ambos se coincidem no tempo, segundo historiadores. Antes do surgimento do Jiuta, as músicas eram tocadas e cantadas pelo Biwa (me lembrando bastante os cantos históricos da Europa feita com alaúdes) e com a chegada do shamisen, foram pouco a pouco sendo substituídas e formando o estilo desse tópico.
Por esse motivo, as músicas mais antigas seguem até um padrão tocado no Heike Biwa, inclusive o uso do plecto (bachi) por ambos os instrumentos e o fato dos instrumentistas serem cegos (chamados de Todoza).
Depois de algum tempo, outros instrumentos que seguiam seu caminho independentemente como o koto e o kokyu se uniram e começaram a ser tocadas juntas nas peças, formando um trio denominado “sankyoku – 三曲”, que literalmente significa “peça para três”.
Características do estilo
Como características do estilo, temos peças onde o instrumento e o canto caminham juntos e em alguns momentos, sobressai partes somente instrumentais chamadas de “tegoto“. A parte cantada muitas vezes não segue a melodia do instrumento tornando as músicas bem complexas e um exercício para o cérebro.
Talvez por terem sido escritos e praticados em grande parte por cegos, as músicas não tem uma impressão visual, mas sim de sentimento. É um pouco difícil descrever como é isso, mas praticando sinto bastante que as músicas são bem introspectivas e repletas de narrativas emotivas e com metáforas que remetem a algum sentimento de forma super sutil.
E gosto muito também do tema das letras, normalmente sendo retratados em forma de poesia (Waka e Haiku) contando fatos históricos (por exemplo os contos de Heike Monogatari) e poesias repletas de metáforas sobre a vida na época e que se aplicam até hoje com conteúdos de saudade, amor e pensamentos sobre a vida.
Instrumentos utilizados
Como descrevemos acima, o shamisen foi o precursor deste estilo e mais tarde na era Genroku, o koto e o kokyu se uniram ao estilo por Ikuta Kengyo formando o Sankyoku. Com o passar do tempo, o kokyu foi substituido pela flauta de bambu chamada Shakuhachi.
Dentre os instrumentos, existe uma diferença do shamisen utilizado em outros estilos como o Nagauta e o Tsugaru shamisen. O shamisen usado no Jiuta é chamado de “Tyuzao“, ou seja, tamanho médio. Além do braço um pouco mais grosso em relação ao shamisen utilizado no Nagauta, o plecto (bachi) é maior, mais pesado e com uma ponta bem mais delicada. O koma (cavalete) utilizado é feito de chifre de búfalo com pedaços de chumbo e adicionalmente, os movimentos da mão direita são suaves e pequenos, conferindo na totalidade, um som muito mais leve e suave que o shamisen normal, perfeito para combinar com a harmonia do koto e shakuhachi.
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