Hoje queria escrever um pouco sobre a música folclórica de Okinawa, o Ryukyu Minyo. Esse é um gênero musical que desde o primeiro momento que escutei, me encantou. Não só pelo seu ritmo animado ou sua melodia profunda, mas o que mais me encantou foram suas letras repletas de amor e sofrimento, que unem um povo que passou por muito sofrimento, desde muito tempo atrás.
Antes de começar, queria deixar claro que escrevi um post sobre o minyo (música folclórica) de forma geral, e como mencionei por lá, cada província tem suas peculiaridades. Quis escrever um post em separado para o minyo de Okinawa pois ele merece especial atenção uma vez que Ryukyu era um reino independente do Japão (Okinawa foi o nome dado ao reino após a sua indexação), e isso se reflete na sua música e cultura. O Japão sempre tentou projetar essa imagem de país homogêneo sob um ponto de vista étnico e linguistico, mas isso para mim é super errado.
A existência de minorias como os ainus e okinawanos é levada um pouco de maneira invisível e é importante manter sua identidade e histórico. Por esse motivo também, pretendo postar sobre o Yaeyama Minyo e Amami Minyo de forma separada, que apesar de terem sido parte do reino de Ryukyu, também tem sua identidade única.
O Reino de Ryukyu
A primeira menção escrita do reino se deu em 605 na China, em um livro chamado Sui (隋书). Durante os séculos 8 e 12, a economia de Ryukyu era basicamente sustentada pela agricultura local e com o desenvolvimento da ilha e o fortalecimento de alguns chefes locais, o reino foi passando por consolidações até chegar a uma união definitiva pelo rei Sho Hashi que estabeleceu sua capital onde atualmente se abriga o castelo Shuri.
Aproveitando-se da sua posição geográfica estratégica entre o Japão, China e o sudeste asiático, o reino de Ryukyu desenvolveu sua habilidade para navegação e tornou-se uma economia mercante a partir do século 15, realizando as rotas comerciais entre os países, além de intercâmbios culturais. Esse intercâmbio levou o instrumento chinês Sanxian ao arquipélago que veio depois a gerar o sanshin.
A música folclórica de Okinawa
Devido aos constantes intercâmbios pela sua posição geográfica e atividade mercante, o reino de Ryukyu desenvolve uma cultura única e diferente do resto do Japão, com influências do Japão, China e todo o Sudeste Asiático. Isso se reflete na sua comida, música e na língua, chamada de Uchinaguchi (que não é um dialeto japonês mas sim uma língua própria).
Assim como no Japão, por haver um rei e sua corte, a música no início se restringia a nobreza com a música clássica. E com a abertura a popularização do sanshin, o instrumento se fundiu com a música local consolidando a música folclórica de Okinawa como conhecemos atualmente, mas temos que deixar claro que o minyo como gênero, existe desde que o primeiro ser vivo dessas terras bateu palmas e cantou as primeiras músicas.
No Brasil, essa preservação cultural continua na mão dos veteranos e dos jovens, que realizam um trabalho árduo de manter a chama dessa cultura que atravessou séculos até chegar os dias de hoje. É sempre bom encontrar os amigos e tocar os minyos de Okinawa que tanto amo! O vídeo abaixo é um pouco antigo, mas é do grande mestre Noborikawa Seijin, que infelizmente já faleceu mas deixa um legado imenso para as próximas gerações.
댓글