Neste ano de 2024, o Ryukyu Minyo Hozonkai, grupo de músicas folclóricas de Okinawa do qual faço parte, comemorou 30 anos de história. Para marcar essa data emblemática, foi realizada uma grande celebração no Centro Okinawano de São Paulo. Após muito esforço por parte de todos os membros, esse evento especial tomou forma, e eu não poderia deixar de participar.
Para mim, em particular, esse evento teve um significado ainda mais profundo, pois fui informado que ali receberia o diploma de professor. Para ser sincero, não me sinto, e ainda não me sentia, apto para essa titulação, dado que há tanto ainda para aprender e melhorar.
Durante a pandemia, perdi uma pessoa muito importante: meu mestre Tadashi Komesu. Receber a missão de transmitir seus ensinamentos carrega uma responsabilidade enorme, mas é uma missão que, pensando dessa forma, aceito de coração aberto. Como disse meu amigo Victor Oshiro em seu discurso, foi ao se tornar professor que ele começou a aprender ainda mais.
Estar naquele palco, sem poder ver o Sensei, ainda me dói. Na abertura do evento, houve uma homenagem aos falecidos nos últimos cinco anos, e para representar o Sensei, estava sua filha. Desde antes de as cortinas se abrirem, já estava em lágrimas. Ouvir o discurso em homenagem foi muito forte e, durante o meu discurso de titulação, não consegui conter as lágrimas.
No meu discurso, destaquei o maior aprendizado que tive com o Sensei. Mais que a técnica, o canto ou o Sanshin, tive a felicidade de aprender um pouco sobre sua forma de viver. Nunca vi o Sensei demonstrar tristeza; ele sempre cantava com energia, seu modo de tocar era cheio de vida, com um canto forte e profundo, carregado de sentimento, mas sempre alegre e sorridente.
Nesse evento, todos os quatro diplomados cantaram uma música solo, o famoso dokusho. Escolhi um medley com três músicas de Yaeyama, as últimas ilhas do arquipélago de Okinawa: "Asadoya Bushi", "Kohama Bushi" e "Tubarama". O Sensei me ensinou essas canções com muito afinco, pois não é comum as pessoas cantarem músicas dessa ilha.
Estar ali no palco com meus irmãos de Sanshin, Victor e Bruna, foi como estar com a minha família. Várias vezes, no palco, senti a presença do Komesu Sensei à nossa frente, como ele sempre ficava nos campeonatos: sentado, ouvindo e balançando a cabeça. Misteriosamente, eu não estava triste; pelo contrário, senti uma energia incrível. Apesar do nervosismo e preocupação, não errei uma nota. Tenho certeza de que o Sensei estava ali no palco conosco.
Muito obrigado, família Hozonkai. Muito obrigado Victor e Bruna. Muito obrigado, Komesu Sensei.
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