Como havíamos mencionado no post sobre o shamisen, existem diversos estilos de músicas tocadas com o instrumento e isso influenciou inclusive no seu formato. Esse instrumento teve sua origem em instrumentos que nasceram no Oriente Médio, passou pela China até chegar ao reino de Ryukyu (atual Okinawa) e se transformou no sanshin.
Dali, chegando ao Japão, foi se transformando até chegar ao norte do Japão, mais precisamente na região de Aomori, onde nasceu o Tsugaru Shamisen. Esse estilo recebe esse nome pois acredita-se que surgiu na península de Tsugaru. Durante o período Edo, a península era governada pelo clã Tsugaru e era uma região bem pobre e distante das principais cidades. Essa região foi o local de nascimento do escritor Osamu Dazai, que em seus diários descreveu sobre a península e sobre o Tsugaru Shamisen, um instrumento local e com um estilo de tocar diferente dos demais instrumentos japoneses.
Mas para entender sobre esse estilo e instrumento, é importante conhecer a história e a natureza da região.
História
Durante todo o período Edo, a região mais ao norte do Japão era isolada geograficamente e habitada pelos povos originários (ainus). Devido ao clima frio, a região não era propícia para a agricultura, mas ao mesmo tempo, era rica em madeira e também em peixes, levando vários barcos com dekasseguis (trabalhadores temporários) para a região, formando os primeiros povoamentos.
Com o tempo, esses navios não levavam só produtos para comercio, mas também cultura, como as músicas folclóricas e seus instrumentos musicais, como o shamisen.
Como a base do Tsugaru Shamisen é o improviso, não existem partituras ou registros, sendo seu conhecimento passado de mestre para aluno até os dias de hoje. Por essa falta de registros, não se sabe exatamente sua origem, mas acredita-se que nasceu com as goze「瞽女」na região de Niigata, mulheres cegas que caminhavam de vila em vila tocando e cantando em troca de comida.
Existe uma outra vertente que foi publicada pelo estudioso Daijo Kazuo que diz que o Tsugaru Shamisen nasceu em Aomori no fim do período Edo (ou seja, o Tsugaru Shamisen tem aproximadamente 150 a 200 anos) por meio de um bosama chamado Nitaboh 「仁太坊」- existe até um filme/anime dessa história dirigido por Akio Nishizawa - baseado em entrevistas com músicos e familiares. De acordo com sua investigação, Nitaboh modificou seu shamisen em 1877, com um estilo mais vertical de tocar e começou a tocar mais próximo ao koma (local onde se apoiam as cordas). Mas como não há registros disso, é difícil confirmar se a informação é verdadeira.
Os bosama, assim como as goze, eram homens cegos que não tinham escolha a não ser se tonar massagistas, comediantes ou músicos, sendo inclusive tratados como mendigos e deixado de lado por suas famílias.
Juntamente com Nitaboh, outros dois bosama competiam entre si: Kurokawa Momorato「黒川桃太郎」e Umeda Hougetsu「梅田 月」. Mais tarde, foram deixando discípulos como Takahashi Chikuzan「高橋竹山」- que começou suas viagens para levar o Tsugaru Shamisen em 1964 e foi considerado o último bosama - e Shirakawa Gunpachiro「白川軍八郎」- último aluno de Nitaboh, que foram considerados os "deuses" do Tsugaru Shamisen.
Pensando nas condições sanitárias e o acesso ao conhecimento e saúde nessa época, é de se entender. Muitas deles ficavam cegos por terem varíola ou sarampo na infância, e para sobreviver, esses homens e mulheres cegos caminhavam pela neve e quando chegavam nas vilas, eram recebidas e tinham que mostrar extrema habilidade com o instrumento em troca de esmola e comida.
Para causar impacto, o bachi (plecto que toca as cordas) foi ficando menor para ser tocado com mais agilidade, o instrumento foi ficando maior para ter um som mais potente uma vez que não existiam microfones e aparelhos elétricos para amplificar o instrumento, as cordas trocadas por mais grossas e a sua musicalidade, mais dinâmica, percussiva (podemos ver que se toca bastante o corpo do shamisen como se fosse uma percussão) e o canto, extremamente forte e profundo.
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