O Nagauta é uma forma tradicional de música japonesa que se originou no período Edo (1603-1868) e talvez seja um dos mais conhecidos no ocidente por sua ligação ao teatro Kabuki. O termo "nagauta" pode ser traduzido como "canção longa" - diga-se de passagem, realmente são longos e não sei como os músicos decoram essas músicas.
Eu tive a oportunidade de assistir e participar de duas aulas de Nagauta com mestres vindos do Japão, sendo uma no shamisen e outra com instrumentos de percussão e achei super interessante. Os gritos (uoooooo) característicos e o estilo dinâmico de tocar o shamisen trazem todo um glamour característico desse estilo. De verdade, sempre admirei o som e a dinâmica que o shamisen possui no Nagauta, diferente de qualquer outro e sendo para mim, um dos que mais representa esse instrumento que tanto amo.
E como também sou apaixonado pelos kimonos, no teatro Kabuki os músicos utilizam um chamado kamishimo, que são uns tipos de ombreiras utilizadas sobre o ombro que são utilizadas somente em ocasiões especiais e nobres (vide vídeo no fim do post).
História do Nagauta
Durante o período Edo, o sanshin das Ilhas Ryukyu foi trazido para Sakai, em Osaka, e o shamisen japonês foi criado. Os primeiros a usá-lo foram os músicos cegos que até então usavam o biwa para tocar e cantar. No entanto, o biwa é um instrumento muito pesado e o shamisen, por ser mais leve e fácil de transportar, se popularizou.
A música que os músicos cegos (conhecidos na época como biwa hoshi) começaram a tocar e cantar era chamada de kamigata nagauta, um estilo dentro do jiuta. Porém, esse estilo de nagauta é completamente diferente do "nagauta" que estamos tratando hoje. Com a expansão do kabuki para Edo, o Nagauta se estabeleceu como as canções teatrais do kabuki, que é o estilo que conhecemos hoje em dia. Após o final do período Edo, muitas obras começaram a ser apreciadas puramente como música, independente do kabuki.
Instrumentos - O shamisen é a estrela
Nesse estilo, o shamisen possui um papel fundamental. O shamisen no nagauta utiliza o shamisen hosozao, o tipo mais fino de braço de shamisen, em contraste com o futozao usado no takemoto e o chuzao no Tokiwazu-bushi e Kiyomoto-bushi. Primeiramente, a espessura do braço muda o timbre do som. O "gidayu-bushi", que usa o shamisen com braço grosso (futozao), é caracterizado por um som grave e ressonante. Por outro lado, o nagauta shamisen tem um som brilhante.
Outros instrumentos também são tocados, como instrumentos de percussão (taiko, otsuzumi, kotsuzumi) e de sopro (ryokan, takebue).
Melodia
Apesar da melodia livre, há características de escala e certos padrões, geralmente descritas como "vibrantes e rítmicas" e partes descritas como "suaves". Uma característica é que a parte vibrante frequentemente aparece no final da música. No entanto, assim como o kabuki mudou com o tempo, o nagauta também se diversificou.
O nagauta incorpora elementos de diversos gêneros, utilizando diferentes afinações básicas ("honchoshi", "niagari", "sansagari") e afinações especiais ("ichigarari", "rokushagari") dependendo da cena. Técnicas de execução como "suri" e "hajiki" são variadas, expressando estações, locais e emoções dentro da peça.
Nesse estilo, o canto e o shamisen são performados por pessoas diferentes e normalmente se mantém um número igual entre os dois grupos. Dependendo da peça, biombos dourados, prateados ou com motivos de folhas de pinheiro são colocados ao fundo, com tapetes vermelhos sobre o suporte. No andar superior do suporte, sentam-se os cantores e tocadores de shamisen, e no andar inferior, os percussionistas.
Estilos de Nagauta
Meriyasu: Canções curtas tocadas individualmente para efeitos líricos que acompanham as ações de atores no palco do kabuki, como "Kurokami", "Akebono no Kane" e "Godaiki"
Shosa-uta: Músicas para acompanhar danças, que constituem a maioria das músicas clássicas existentes, seguindo padrões fixos de acordo com as convenções de dança
Joruri-fu Nagauta: Nagauta com elementos narrativos, com temas e conteúdo semelhantes ao joruri, avançando do domínio lírico para o narrativo, como "Ataka no Matsu" e "Utsubo-zaru"
Zashiki Nagauta: Canções criadas para audição fora do contexto de teatro ou dança, com estrutura livre, como "Azuma Hakkei" e "Aki no Irotane"
Osatsuma-mono: Canções que se originaram do Gekikibushi do joruri de Edo e se fundiram com o nagauta, com uma sensação grandiosa e majestosa, como "Tsuna Yakata no Dan" e "Kurama Yama"
Yokyoku-mono: Canções baseadas no yokyoku, que tem uma longa história como música da classe samurai, com grande influência no nagauta, como "Funabenkei", "Hashibenkei" e "Chikubushima"
Shinsaku Nagauta: Composições do final do período Meiji em diante, com estilo livre, sem se prender a nenhuma das seis classificações anteriores, como "Kibun Daijin", "Yoru no Ame", "Tamakiku", "Kanzan Jittoku" e "Oshichi Kichiza"
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